Erótica Fantástica 1 – Vários Autores

capa_erotica-fantasticaDepois de várias digressões sobre tons de cinza e coisas do gênero, tá na hora de falar de coisa boa, de iogurteira top therm de outras propostas em erotismo que possuem o potencial para serem muito interessantes. Afinal, sexo é bom, divertido e a grande maioria das pessoas gosta. Há os clássicos do tema, claro, até tem resenha aqui de um deles, mas nada impede de sabores novos, pessoas novas… de haver diversidade.

Então por que não trazer o erotismo para os domínios do fantástico? Essa é a proposta da antologia Erótica Fantástica 1 (haverá um volume 2 a ser lançado em 2013): contos eróticos em cenários fantásticos (sejam eles de fantasia ou ficção científica). Dezesseis autores, dezesseis estilos, dezesseis universos diferentes para exploração e apreciação. Uma ótima pedida, não?

Mas antes de passarmos à crítica gostaria de dar uma relembrada na noção de erotismo: diz respeito ao sexo, à sensualidade, à libido, ao despertar do desejo, à parte lúdica do sexo. Não é a pornografia, o erotismo está muito mais no campo da provocação e excitação do que na demonstração física do sexo. E nem todo sexo, mesmo gráfico, é necessariamente erótico: Bukowski por exemplo era um autor que usava e abusava do sexo, mas não de forma erótica. O ato mecânico estava ali, a fantasia, a libido, o desejo, não.

E esse é um ponto que vamos retomar mais tarde: falei muito a palavra proposta acima. E, infelizmente, ela não se cumpriu integralmente, pois vários contos… não são eróticos. Tem o sexo como elemento secundário ou terciário da tramae sensualidade nenhuma. Mas vamos por partes.

Primeiro, falar dos pontos altos da antologia, principalmente daquele que achei mais interessante: os contos das autoras deram um show. Apesar de menores em número – seis autoras contra dez autores – os contos delas sem dúvida se destacam. Sexo, prazer, imaginação: nosso time de caríssimas autoras tem tudo isso para oferecer (de bom grado, imagino eu). De uma rapidinha fantástica oferecida por Camila Fernandes no conto de abertura, A Melhor Trepada da Cidade, até um rol de criaturas mágicas aquáticas ou extraplanares trazidas pelas autoras Ana Cristina Rodrigues, Sandra Pinto e Valentina Silva Pereira, respectivamente autoras dos contos A Ilha dos Amores, Portal para o paraíso do amor e do prazer (que é, também, na minha opinião, o conto mais erótico no sentido de excitação, sensualidade e sugestão de toda a antologia) e Sexo de água: uma mutação tentadora. Também temos a descoberta do auto-prazer em situações extremas, abordado pela autora Adriana Simon em seu conto Melhor Acompanhada, e a visão de um sexo nada convidativo e muito mais para o repulsivo em Santíssima Magdalena, de Lídia Zuin.

Ao que parece as mulheres pegaram bem o espírito da coisa: sexo sugestivo, como elemento central de suas tramas e até mesmo apetecedor, além da gigante gama de oportunidades que o sexo fantástico oferece: criaturas mil, várias combinações intercambiáveis de seres, os cenários mais variados possíveis.

Segundo, há contos excelentes que valem a leitura, como o supracitado A Ilha dos Amores, de Ana Cristina Rodrigues, que consegue unir sensualidade e excitação a uma trama bem-amarrada e Glicínias Suspensas, de Antonio Luiz M. C. da Costa, que da mesma forma une o sexo a um cenário vivo, personagens interessantes e uma história bem cadenciada. Ambos os contos são a prova de que é possível ter o melhor de dois mundos: contos excitantes tanto pelo prazer da leitura, de passear por lugares diferentes, conhecer personagens novos e interessar-se por suas vidas e destinos, quanto trazer sexo sugestivo e que enche aos olhos.

Terceiro e uma sacada bem-pensada foi a inclusão de um ensaio sensual fantástico nas últimas páginas do livro, contando com uma linda modelo e alguma edição temática nas fotos. Casou com a proposta do volume, além das fotos serem muito bonitas.

Mas então viemos ao time dos homens, que deixaram bastante a desejar e onde reside a maior parte da irregularidade da antologia. Se temos um conto excelente como o já citado Glicínias Suspensas e o sugestivíssimo A Dança de Shiva, de Rubem Cabral, também temos contos de ideias boas mas execução necessitada de reparos como Botão de Rosa, de Erick dos Santos Cardoso. Se o organizador da antologia Gerson Lodi-Ribeiro nos brinda com o bem-humorado Para Agradar Amanda, já que sexo com lobisomens pode possuir algumas implicações impensadas, temos o Conto pseudo-erótico de fantasia com fantasias, de Felipe Castilho, que apesar de ter cenas de sexo bem interessantes, tem um humor bem falho que acaba por tornar o conto chato.

E tem os contos que eu não incluiria na antologia, por motivos diversos. Pela falta de erotismo, temos o burocrático A Cópula dos Devoradores de Mundos, de Estevan Lutz, que, apesar de trazer uma ideia interessante, a execução é bem sem-sal e nada tem de erótica; assim com o mais romântico do que propriamente erótico Memórias de Alto-mar, de Filipe Cunha e Costa, que é um bom conto mas onde falta algumas gotas de tesão; ou Robodisatva, de Cirilo S. Lemos, que é um conto muito bom, como habitual do autor, mas cujo sexo está muito mais para Bukowski do que para Henry Miller, por assim dizer; e Fêmea Humana, de Sid Castro, onde há a ameaça de violência sexual e o conto se constrói em torno da reação a essa ameaça, mas pouco, pouquíssimo tem de sensual. Os dois últimos contos, principalmente, figurariam muito bem em coletâneas de ficção científica sem o elemento erótico. Por motivos ideológicos, excluiria A Mulher Imperfeita, de Daniel Dutra, que conseguiu me ofender durante a leitura pelo viés de “supremacia do homem branco cuja função da vida das mulheres é servir e agradar” e pelas concepções equivocadas sobre o que seja feminismo.

Enfim: essa é uma antologia com altos de baixos, como qualquer outra, mas senti que lhe faltou, ironicamente, erotismo. Faltaram contos mais sensuais e libidinosos, apesar de terem havido ótimos momentos na leitura. Espero que no volume 2 as coisas estejam mais equilibradas e as mulheres continuem mandando bem – e quem saber agora os homens também não possam se sair melhor?

Para resenha conto a conto no skoob, clique aqui.

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Até a próxima!



7 respostas para “Erótica Fantástica 1 – Vários Autores”.

  1. […] Então por que não trazer o erotismo para os domínios do fantástico? Essa é a proposta da antologia Erótica Fantástica 1 (haverá um volume 2 a ser lançado em 2013): contos eróticos em cenários fantásticos (sejam eles de fantasia ou ficção científica). Dezesseis autores, dezesseis estilos, dezesseis universos diferentes para exploração e apreciação. Uma ótima pedida, não?  […]

  2. Uma resenha interessante, o meu está a caminho e estou ansioso pela leitura. Já li muito de Henry Miller e Sade (até estudos teóricos sobre a pornografia nas escritas do libertino), Marcia Denser e por aí vai. Os homens estão mais para a pornografia, conseguem tirar alguma melancolia dela, na maioria dos casos, e transformar o ato em algo próximo do filosófico ou existencial. O erotismo é difícil, mais que a escrita explícita. De qualquer forma, uma excelente iniciativa da Draco e um ato de coragem por parte do autores (eu não me arriscaria, não por pudor, mas inaptidão para arrancar um algo mais das provocações e clima). Valeu pelos apontamentos.

    1. Sexo é um dos temas mais difíceis de se escrever, na minha opinião, sem cair no ridículo, no chavão ou nas frases feitas. E isso os autores conseguiram muito bem, não tem nenhum conto, nenhuma cena, de vergonha alheia na antologia.

  3. Nossa, eu estava procurando um termo pra uma coisa do TCC e não conseguia lembrar. Lendo seu texto, lembrei. uhauhauhauha “compatível com a proposta”. Obrigada pelo insight. uhauhauha

  4. Gostei da crítica e estou curioso para ler os contos dos outros autores (já que por morar no exterior ainda não recebi meu livro).

    1. Obrigada! 🙂 (aliás, eu que deveria agradecer pelo bom conto). E logo vc recebe e pode conferir 🙂

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