A partir de 2010, como qualquer um que acompanha este blog ou mesmo “o cenário” deve ter percebido, os títulos de literatura fantástica nacional começaram a invadir o mercado, especialmente graças ao advento das editoras temáticas, como a Draco, ou pelo impulso de autores de sucesso, como Eduardo Spohr ou Raphael Draccon. Com a proliferação de lançamentos, começa a acontecer algo que é o esperado desde o início, as temáticas começam a se diversificar. Fantasia medieval rpgística, fantasia urbana, dark fantasy, fantasia épica, anjos, demônios, elfos, fadas, lobisomens… E é bom que seja assim, afinal todos os gostos são contemplados, e é bom ter opção dentro de um mesmo nicho.
O Castelo das Águias é uma high fantasy de humanos e elfos que dividem um mundo mágico com uma leve inspiração da mitologia nórdica (bom, se tem elfos, de qualquer forma foi inspirado, mas no caso a inspiração é bem maior e mais explícita). E mais do que isso: é sobre um mundo mágico, onde elfos e humanos convivem mais ou menos pacificamente, e que precisam frequentar escolas para aprenderem as artes mágicas. Neste ponto, tende mais para O Nome do Vento do que para Harry Potter em abordagem.
É a história intimista de Anna de Bryke, jovem (muito jovem!) humana que é contatada pelo Castelo das Águias, a escola de magia, para ser a nova Mestra das Sagas – aquela que ensinará os poemas e contos antigos para as crianças, para que treinem narrativa e visualização, etapas fundamentais para o perfeito aprendizado das artes mágicas. Ela é vista com narizes torcidos, afinal tem apenas uma avó elfa, e conquista a amizade de alguns e antipatia de outros. Em especial, chama -e é chamada a atenção – de Kieran, o único mago humano além dela, mestre das águias, homem misterioso e com fama de temperamento difícil.
Preciso dizer no que isso vai dar? 😀
Claro que a história não é feita apenas de romance, apesar de ser o gatilho da trama política na qual Anna se mete. As águias de Kieran são importantes receptáculos de magia, tornando-se uma poderosa arma de guerra quando necessário, e a disputa sobre sua posse, que era sutil, se intensifica. A jovem mestra das sagas, interessada em conhecer melhor o objeto de seu afeto, acaba mergulhando de cabeça em maquinações políticas às quais não é familiar, e das quais não pode escapar.
A narrativa do livro é sensacional, uma das mais caprichadas que já vi em livros nacionais dos autores fantásticos. Dá para imergir por completo na atmosfera mágica de Athelgard através da mão de contadora de histórias da autora que entra em ação, guiando o leitor pelo saboroso texto e fazendo-o imaginar, visualizar e até mesmo sentir o perfume do Castelo das Águias, de suas torres coloridas e de seus campos verdejantes.
Outra coisa que achei muito legal no livro foi a forma como a magia é tratada: a impressão da imaginação no mundo (que é o que de fato é a magia) sistematizada e que precisa de estudo e exercício para ser posta em prática. Inclusive, contar histórias também é uma forma de mágica, como Anna ensina aos seus alunos (e achei o Mata Dragões um adolescente exibido muito fofo!).
Kieran consegue um bom equilíbrio entre o mistério e a ação e é impossível não entender como Anna apaixonou-se imediatamente por ele. A mestra das sagas também é a menina que sai do interior e vai para a academia e que precisa aprender a encarar o mundo real e seus alunos – como os fofos Mata Dragões e Padraig).
Mas nesse ponto entra aquilo que achei o grande defeito do livro: fora os protagonistas e os dois alunos fofinhos, nenhum dos outros personagens foi bem caracterizado. Só conheço os demais professores da escola por seus nomes – e se de repente todos os nomes fossem trocados, acho que não faria muita diferença em saber quem era quem. Não que eu quisesse que fossem personagens redondos, mas acho que faltou distingui-los melhor, dar marcas para suas personalidades, fazer com que o leitor se lembrasse de quem está sendo falado quando o assunto volta para eles. Mesmo o vilão: sei quem era e entendi suas motivações, mas faltou um “salzinho”, um temperinho para ele ter uma presença maior. Faltou falar um pouco mais sobre eles – e nem precisava de muito, os dois alunos que citei aparecem em menos de meia dúzia de ocasiões e me lembro perfeitamente de ambos. O que abunda não prejudica, essa é minha dica para os futuros livros da saga (já que desconfio que não vai ser a única história de Kieran de Scyllix e Anna de Bryke que veremos…)
Enfim, é bem legal ver que finalmente estamos produzindo fantasia – e BOA fantasia – para todos os gostos 🙂
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Até a próxima!
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