Mad Max: A Estrada da Fúria
18/05/2015 1 Comentário
Já falei do inferno que são as expectativas. Trailer legal, o hype que já começa a ser inflado meses antes, as redes sociais em peso falando de algo, enfim.
E às vezes nem tem tanto hype assim. Algum dia escutei que Mad Max teria mais um filme, pensei em “ah, mais um da onda de ressurreição de franquias, quem se importa” e deixei para lá. Até uma onda de críticas, pouco antes da estreia, dando conta tratar-se de um FILMAÇO. Uma crítica melhor do que a outra, certa unanimidade no ar e me despertou a vontade de ver.
E É TUDO ISSO O QUE ESTÃO DIZENDO SIM.
É dos filmes que JÁ NASCEM CULT (como, aliás, os dois primeiros filmes da franquia). Que já nascem paradigmáticos. Que já são revolucionários imediatamente.
Primeiro, ao invés das distopias cinzas e desbotadas, temos um mundo solar, ultra colorido, com a predominância do laranja e do azul. Um visual belíssimo, over, de encher os olhos, com direito a pirações como um cara tocando guitarra sobre um dos carros da perseguição (esse personagem sozinho é mais legal que o Vingadores 2 inteiro).
Segundo, um roteiro extremamente simples (“mulheres escapam da servidão para a liberdade, ditador do mal vai atrás delas, Max acaba envolvido mesmo não tendo nada com isso”), com pouquíssimos diálogos, a maioria deles bobos, mas com inúmeras camadas de significado possíveis (voltaremos a isso).
Terceiro, um filme de ação que é injeção de adrenalina do início ao fim. Não tem pausa para respiro: do primeiro minuto ao último, ação contínua, sendo impossível dispersar a atenção ou não se envolver quase que imediatamente. Mal rolam os créditos: ação. Ação. Ação. Não tem condescendência com o espectador.
Fora que é uma AULA do princípio narrativo de mostrar, não contar. Como disse, são pouquíssimas linhas de diálogo, nenhuma delas sobre o óbvio, mas fica tudo muito bem explicado: quem são aquelas pessoas, o que as move, qual seu papel na sociedade ali consolidada. O espectador não é subestimado, não é preciso longas explanações para que saiba de tudo: Max está atormentado pela morte dos entes queridos, as mulheres são escravas sexuais que sofreram horrores inenarráveis, Immortan Joe juntou um culto fanático ao seu redor e controla aquela comunidade usando para tal a água.
E entramos nas camadas de significado. É uma distopia onde o consumismo foi exacerbado e por isso o mundo foi contaminado (por isso crianças saudáveis valem tanto) – o que fica óbvio com a Aqua Cola e o McBanquete no Valhalla. Ao invés de somente a gasolina, como nos filmes anteriores, a atualização da distopia faz com que a água tenha acabado também. E as pessoas são controladas pela falta d’água (soa familiar?).
Outro ponto é o fanatismo bizarro dos War Boys, jovens sem perspectivas, alucinados por carros e parte de um culto suicida que promete um banquete infinito no pós-vida. Lembra algo de nossa realidade?
E talvez um dos meus pontos prediletos do filme: a ideia central é o conceito revolucionário que mulheres não são objetos e nem propriedade. Essa é a história de Imperator Furiosa, a real protagonista, que está num arco de redenção. É ela que arrisca a vida levando as cinco esposas embora para a liberdade – e elas, as esposas, se rebelaram por si mesmas. É a dona da ação – claro que ajuda e é ajudada por Max, que caiu no meio de uma história que não é a dele – que não precisa ser salva por ninguém, muito pelo contrário, que é a mola propulsora dos acontecimentos. Em nenhum momento, exceto no início do terceiro ato, Max toma a frente de uma luta que não é sua: é a história daquelas mulheres, da qual ele é um mero coadjuvante.
As cinco esposas, por sua vez, não estão ali para serem sexualizadas (engraçado que usam roupas curtíssimas, até pelo contexto, mas em nenhum momento a câmera explora seus corpos. Aliás, a cena em que aparecem pela primeira vez é uma bela duma subversão do “entrei na reunião das gostosas”) São personagens determinantes para trama, cada uma com suas habilidades e personalidades próprias. Não são elementos do plot, nem bonecas de papel: estão ali para serem e participarem.
E fica de parabéns uma obra tão aberta, honesta e assumidamente feminista não ser panfletária em nenhum momento. As coisas, ali, simplesmente são como são.
Enfim. O filme do ano até o momento. E que seja o primeiro de muitos a explorarem ideias tão revolucionárias e óbvias.
(de brinde, uma resenha bem melhor do que a minha)
***
Até a próxima!
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