Confissões On-Line – Iris Figueiredo
05/12/2014 1 Comentário
Outro dia vi uma frase interessante: não confie em quem teve um Ensino Médio maravilhoso. Digo mais – da mesma forma que todas as famílias felizes são iguais e infelizes se diferenciam pela infelicidade, ensinos médios felizes são todos iguais e os problemáticos se diferenciam pela natureza dos problemas sofridos.
Conheço a autora do blog dela, de segui-la no twitter e achá-la uma pessoa superfofa. Quando soube que ela lançaria um segundo romance, fiquei curiosa para ver mais sobre sua escrita – conhecia um pouco da ficção dela pelo conto da coletânea Meu Amor É Um Anjo.
Pela capa, título e sinopse esperava uma coisa levinha, engraçadinha, bem inha mesmo, meio consciente de que não sou público-alvo e que talvez isso influenciasse meu julgamento. Mas então me veio a surpresa: de “inho”, esse livro não tem nada. Mais: toda minha condescendência caiu por terra e fui atingida em cheio pela trama e personagens.
Essa é a história de Mariana Prudente, último ano do ensino médio, com as pressões normais dessa época como o show da banda favorita ou a proximidade dos vestibulares. Porém, o que deveria ser um período divertido apesar de estressante, anda sendo um tormento – ela foi vítima de boatos maldosos na escola, vindos das últimas pessoas que ela esperava propagarem tais histórias, e agora o ambiente que antes era agradável é hostil. Para piorar, sua sonhada viagem de intercâmbio foi cancelada graças ao casamento de sua histriônica irmã e sua melhor amiga não se encontra tão acessível quanto deveria.
A tal vida online do título só vai entrar bem depois, quando um vídeo despretensioso se torna viral no youtube e a vida dela sofre uma completa transformação por isso. Uma ajuda para que ela se fortaleça, possa enfrentar seus problemas e superá-los.
Só digo duas coisas sobre o livro: a primeira é que já mencionei aqui algumas vezes que meu Ensino Médio oscilou entre a tragédia, a negação e a farsa. Posso dizer que várias passagens, em especial a angústia de sentir-se sozinha de tudo e quando a personagem é hostilizada na escola, as piores memórias dessa época foram revividas. O que só prova a habilidade da autora de transcrever sentimentos e situações de forma tão sincera que se tornam, ainda mais para quem os conhece (e a grande maioria das pessoas, em maior ou menor grau, passou por problemas do gênero na adolescência), reais e palpáveis.
A segunda: a narrativa é uma DELÍCIA! Li o livro nas minhas atuais longas viagens de trem e não via o tempo passar! Quando dava por mim, já tinha de parar a leitura pois tinha chegado ao destino. É extremamente bem-humorada e acerta em cheio o cotidiano: as dinâmicas familiar, escolar, afetiva, todas estão lá da maneira mais sincera possível. São coisas que já aconteceram, acontecem ou acontecerão na vida de qualquer um e essa transcrição do cotidiano, quando natural, funciona e cai super bem.
Além de que é uma forma de se tratar o bullying (e que it gets better quando você encontra a força para reagir) de forma espontânea, dando a dimensão do leitor das feridas da protagonista e da reação de seus colegas aos acontecimentos. O tratamento do transtorno alimentar, porém, não teve o mesmo sucesso – eu gostaria mais se fosse mais sutil, da mesma forma que o bullying.
Mas enfim: ADOREI ter minhas expectativas quebradas, ainda mais por uma obra tão simpática quanto sua autora. Mente e coração abertos são características muito importantes para qualquer leitor, até porque nessa de “ai, eu não sou público-alvo” muita coisa boa acaba ignorada e perdida.
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Até a próxima!
Legal! Sempre fui muito curiosa pra ler livros da Íris. Esse parece uma boa! 🙂