Guardiões da Galáxia

capa_guardioesUm dos diferenciais da Marvel construído desde a Era de Prata é a presença de super-heróis humanizados e colocados em cenários realistas. Todos nos lembramos do Homem-Aranha passeando por Nova York, ou dos X-Men interagindo com os fatos da história mundial, ou até mesmo edições históricas como o especial pós-11 de setembro que mostram esse link com as pessoas e lugares do dia-a-dia. Mas o estúdio, mesmo dentro de seus quadrinhos especiais, tem espaço para a mais pura especulação e extrapolação, como seu cenário espacial.

Outra coisa que temos de admitir é que, desde quando a guerra entre as editoras se tornou transmídia, a Marvel anda ganhando de goleada. Desde a fundação do estúdio de cinema próprio e da compra pela Disney, filmes Marvel são garantia de qualidade. Aliás, não me lembro qual foi o último filme Marvel ruim (e provavelmente foi fruto de uma cessão de direitos). E com o dinheiro entrando, com projetos ambiciosos como a série dos Vingadores dando muito mais certo do que se supunha, sobra espaço para apostas em cenários diferentes e personagens desconhecidos.

Aqui entram os Guardiões da Galáxia, do cenário especial e que sempre foram “heróis B” da editora. O que foi visto com reticência ao ser anunciado o projeto e que se tornou muito legal ao se anunciar um guaxinim armado com metralhadoras virou um filme divertidíssimo. Aliás, me arrisco a dizer que me divertiu mais do que os esperadíssimos Vingadores. E mais ainda: deu um gás novo a um gênero que anda capenga há anos, senão décadas: a space opera.

Essa é a história de Peter Quill, vulgo Starlord, um garotinho que perdeu a mãe anos atrás e foi abduzido por alienígenas caçadores de tesouros, levando como última lembrança uma fita cheia de sucessos musicais dos anos 70/80. Circunstâncias de trabalho o fazem achar um objeto desconhecido e aparentemente muito preciso, já que o universo inteiro, incluindo a guerreira Gamora, Rocket Racoon, o guaxinim mercenário surtadíssimo, e seu amigo, o simpático homem-árvore Groot, acabam atrás dele graças ao objeto. Claro que os personagens, adicionados de Drax, descobrirão a natureza do tesouro e que há mãos muitíssimo perigosas atrás dele (inclusive Thanos, fazendo alguma coisa antes dos Vingadores 2). Caberá aos nossos heróis, lógico,  a salvação da galáxia.

Tudo isso num cenário espacial cheio de naves, alienígenas e criaturas estranhas em geral. Dá gosto ver a evolução da CG ao longo do tempo (e esse é um filme quase 100% em CG, incluindo um Rocket Racoon bem plausível – dizem que reproduzir mamíferos é uma das maiores dificuldades pois é difícil deixar pelos realistas) e como isso se reflete num cenário espacial único. Já disse: quando foi a última space opera realmente boa? Diria que foi Spaceballs e lá se vão décadas!

Por falar em Spaceballs, apesar de Guardiões da Galáxia não ser uma sátira, é um filme bem debochado, o que acaba dando toda uma graça a mais. A fita-lembrança do protagonista é um link para a ÓTIMA trilha sonora e uma boa demonstração de como utilizar música com finalidade narrativa (a cena de preparação da batalha final com Cherrybomb ao fundo é simplesmente um achado). Os personagens, anti-heróis de carteirinha, também são bem diferentes dos super heróis bonzinhos de costume e cheios dos diálogos e tiradinhas sacanas. Chegou um pontoem  que comecei a me perguntar se o público-alvo do filme, na verdade, não são aquelas pessoas que pegaram filas para a estreia do Homem-Aranha em 2002 e cresceram com a força Marvel no cinema…

Mas para dizer que não tenho críticas, vamos lá: apesar dos personagens legais, achei a história e motivações de Gamora meio jogadas, algo que poderia ser explorado de forma melhor mesmo que dentro do tempo disponível do filme. Também não gostei do pouquíssimo aproveitamento da sub-vilã Nebula (não foi muito mais do que a “irmã invejosa” e nem isso, um gancho fácil e rápido, foi aproveitado a contento – vamos deixar um pouco na conta do mau trabalho da atriz, que em Dr. Who fez um personagem mais interessante, mas o roteiro também pareceu se esquecer dela a partir de determinado ponto). Outra coisa, mas que daí entraria na categoria de “plus a mais”, é que seria um filme relativamente fácil de cumprir o teste Bechdel, e aí sinto que faltou vontade da produção de fazer valer a pena (apesar da história girar em torno de Starlord/Ronan/o Colecionador).

(p.s. sobre o Colecionador: o personagem de Benicio del Toro, tanto pela essência quanto pela caracterização, não está igualzinho ao de Ron Perelman em Círculo de Fogo? Daquela coisa de se pensar em quem “se inspirou” em quem :P)

Enfim, é um dos melhores filmes da Fase 2 da Marvel, ainda mais para quem cresceu assistindo às adaptações desde o comecinho dos anos 00 mas continua gostando e muito de tudo isso.

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Até a próxima!

 



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