O papel aceita tudo…
24/02/2012 4 Comentários
Quarta-feira de cinzas, todo mundo com aquele climão de ressaca (convenhamos que mesmo quem não gosta de carnaval gosta de feriados, né?) e retomamos os trabalhos do blog! Hoje, para dividir um pouco de revolta…
Passeando pelo twitter, vi a seguinte foto sendo retuitada. Fiquei horrorizada com o conteúdo. Como um livro na sessão infantil pode trazer uma “dieta especial para meninas”? A paranoia de dietas da nossa sociedade precisa começar ainda mais cedo do que ela já começa? Claro que a editora lança o material porque existe demanda, mas há pais que permitem que suas filhas comprem esse material e comecem dieta em plena fase de crescimento?
Fui pesquisar sobre o livro e achei a sinopse:
“Alimentar-se bem, estar com saúde e feliz consigo mesma: três coisas que pareciam inalcançáveis, não é mesmo? Agora não mais! Finalmente uma proposta fácil, realista e só para garotas. Pois Daphne Oz é uma garota como você e sabe do que está falando. Mesmo vindo de uma família de especialistas em nutrição, Daphne teve problemas de sobrepeso durante a adolescência e não conseguia terminar nenhuma dieta. Com a ajuda desses excelentes conselheiros e baseada na própria experiência, descobriu um novo enfoque para controlar o peso. Agora os segredos de Daphne estão ao seu alcance. Você vai criar um estilo de vida próprio e saudável, que vai servir para a vida inteira”.
Só eu que acho isso errado? ÓBVIO, LÓGICO E EVIDENTE que o blog apoia a alimentação saudável, a realização de exercícios físicos regulares e a saúde de seus leitores. O blog também reconhece que a obesidade – OBESIDADE – infantil é um problema de saúde e que vai muito mais longe do que “comer errado” – passa por falta de cuidado alimentar, pelo desleixo de pais que preferem a opção fácil dos salgadinhos e refrigerantes, pela confusão entre afeto e alimento que faz pais socarem comida em crianças ou deixá-las comerem o que quiserem… é bem complexo.
Só que o blog também não ignora outras coisas, como a pressão social de que uma mulher se mantenha magra, de preferência com o perfil famélico de uma modelo de passarela. Não estou fazendo apologia da obesidade, o que é uma coisa bem diferente, mas todos sabemos da paranoia que se aplica a mulheres para que sejam magras, comam pouco, tomem adoçante, vivam de dieta… e me dou de cara com um livro que ensine isso a garotas de dez, doze anos???? Notem bem: é uma dieta para garotas, ou seja, mulheres. Não é um livro para auxiliar crianças (meninos e meninas) obesas em tratamento médico a se reeducarem, é para garotas fazerem dieta e serem magras, bonitas e felizes (e só se pode ser bonita e feliz sendo magra? É preciso mesmo ensinar isso às garotas?).
Talvez o meu choque maior seja esse mesmo. Um livro direcionado para meninas para ensiná-las desde cedo essa equação de magreza, beleza e felicidade. E existe maneiras diferentes de meninas e meninos emagrecerem? Alguma coisa que passe longe de alimentação saudável e prática de exercícios físicos?
E depois há quem ache que vários dos discursos do feminismo são viagem…
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Até a próxima!
Sociedade: fazendo a mulher se sentir frustrada consigo mesma por não ter a aparência-padrão (e não, digamos, por não ser inteligente ou agradável de se conviver) desde… hum, muito tempo. 😛
Sabe o que isso me lembra? Aqueles concursos de beleza para crianças. Bem, eles não usam a palavra “criança”, né. É concurso para meninas, escondidas debaixo de quilos de maquiagem e cabelos ultra-mega-tratados-penteados-laqueados, que ficam parecendo mulheres anãs.
Dieta pra criança, concurso de beleza pra criança, padrões machistas de corpo e sexualidade pra crianças… TÁ TUDO ERRADO, GALERO, DÁ REBOOT NO SISTEMA AÊ
Concordo!!!
Seu comentário é equilibrado. Todas as pessoas (sejam de qualquer sexo) devem cuidar da saúde, física e mental. Alimentar-se bem, buscando uma dieta saudável é bom para qualquer pessoa (criança ou adulto).
A imposição de padrões é que é ruim. Quem não está no padrão é taxado como esquisito, feio, desleixado, etc.
É importante a reflexão sobre o tema e que todos sejamos respeitados, independentemente dos ditames da moda, dos padrões das mídias (“poposudas, esquálidas, loiras, morenas, mulatas”).