O Baronato de Shoah: A Canção do Silêncio – José Roberto Vieira

Os videogames, como diversão eletrônica acessível, agradável e cativante, começaram a ser popularizados no inicinho da década de 80, com o primeiro console doméstico, o Atari. De lá para cá, os jogos foram ganhando em complexidade – gráfica e temática – e deixam, aos poucos, de ser vistos apenas como “diversão para crianças” para serem vistos como peças de narrativa em que o jogador pode participar do rumo da trama (bom, acho que já falei sobre isso antes…)

Uma geração inteira cresceu com os dedos apertando botões nos joysticks, acompanhando as histórias nas quais podiam interferir e se apegando aos personagens, dramas e desafios dos jogos. Esta geração, que já se aproxima dos 30 anos, cresceu, apareceu e agora afirma seu lugar como adulta e como parte do mundo e da construção cultural geral. E, logicamente, tendo crescido salvando Zelda, isso influenciaria também a forma de expressão do mundo (e o que é a literatura senão uma forma de se expressar?)

O Baronato de Shoah é um livro cuja inspiração explícita é o videogame, em especial os RPGs de console e mais especialmente ainda a série Final Fantasy (da qual voltarei a falar aqui algum dia). Também dá para ver uma grande influência dos animes (em especial Full Metal Alchemist, que você pode ter uma palhinha de como é AQUI e AQUI), o que demonstra bem as influências de um autor que cresceu nas décadas de 80 e 90.

Mas deixando as referências de lado, vamos falar da história.

Era uma vez o continente de Nordara e o Baronato de Shoah, terra onde, séculos atrás, os Titãs foram vencidos pelos bnei shoah, guerreiros de elite, em oposição aos ggoym, que não lutaram e nos dias atuais carregam uma pecha de covardia por isso. Os bnei shoah tornaram-se então uma espécie de aristocracia e vários de seus jovens são treinados, desde a tenra idade, para a manutenção do exército, encaminhado de acordo com cada um de seus dons (os dons e seus nomes são livremente inspirados na Cabala e mitologia hebraica em geral – então esperem por um tempero bastante diferente para essa aventura. Na verdade, “Kabalah” é até mesmo o nome da tropa de elite do Baronato).

E segue a história de Sehn Hadjakkis, cujos pais são guerreiros extraordinários da Kabalah, fazendo com que as expectativas sobre ele fossem altíssimas. Ele namora Maya, que apesar de ggoym vem de uma família bastante rica, mas a diferença de “castas” os impede de ficarem juntos. Ambos os adolescentes juram amor eterno e partem para seus destinos, ele para o treinamento para ingressar a Kabalah, ela para se casar com algum noivo escolhido pela sua família.

Sehn conhece então o grupo de amigos que fará parte integrante de sua vida, em especial Edgar – que também terá papel importantíssimo no decorrer da história.  Nessa primeira parte da história, talvez pela quantidade de termos exóticos e de personagens que precisam ser apresentados, além da inevitável infodump sobre o cenário e suas peculiaridades, a linha narrativa do Sehn ficou bastante confusa – e a da Maya muito mais interessante (já que ela não é o tipo de moça que ficará sentada esperando os desígnios de sua família sobre seu futuro, – apesar de que a personagem, balanceada no começo da história, pende para o caricatural em seu desenvolvimento). Isso é corrigido na segunda parte da história, principalmente depois que os planos dos vilões são revelados, os personagens são melhor integrados e a linha narrativa de Sehn ganha agilidade.

Quanto à terceira parte, dá para sentir alguns problemas, como a pequena passagem da personagem Minerva – que não acrescenta em nada à trama – e alguma confusão no capítulo final  – onde achei que se as coisas se estendessem por mais umas 10 ou 15 páginas, a situação se desenrolaria de forma menos atropelada. É de se levar em consideração que é o primeiro livro do autor e que o livro é o primeiro volume de uma série (o que perdoa a necessidade de bastante infodump para ambientação)

Claro, essas são falhas que me saltaram aos olhos, mas nenhuma delas prejudica o bom desenvolvimento da leitura ou a compreensão global dos eventos. Além disso, ainda mais se você jogou Final Fantasy, todo o clima de videogame traz um bônus a mais e um sorriso no rosto da narrativa (ainda mais levando em consideração que a dinâmica Sehn-Edgar lembra BASTANTE a dupla abaixo, e Tesla também tem um tempero de vilões loucos da série como Kefka ou Kuja)

E tem, é claro, o cenário steampunk fantástico, bem legal de se ver. Porque a estética steampunk (e mesmo a parte política/crítica social) não precisa estar atada ao planeta Terra, não é mesmo? 🙂 E dá-lhe dirigíveis voadores, espadarmas, um combustível alternativo (a Névoa) e até mesmo robôs gigantes 😀  A construção de mundo, bem diferente do high fantasy clássico, é algo bem legal de se ver.

Enfim. Excelente homenagem aos videogames, aos animes e amostras de uma fantasia que pode ter temperos diferentes e também ser o reflexo de novas mídias e histórias.

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Até a próxima!



8 respostas para “O Baronato de Shoah: A Canção do Silêncio – José Roberto Vieira”.

  1. fico me achando a última coca-cola da geladeira quando vejo estas resenhas.Obrigado, Ana, e pode deixar que aprendi umas coisas ou outras para os próximos livros 🙂

    bjokas!

    1. Avatar de Ana Carolina Silveira
      Ana Carolina Silveira

      SEPHIROTH!!!!!!!!!!!!! *com One Winged Angel ao fundo*

  2. Fantástica resenha, a primeira resenha contextualizada e que realmente me deu vontade de sair correndo e comprar o livro!

    1. Avatar de Ana Carolina Silveira
      Ana Carolina Silveira

      Obrigada! E depois de ler o livro, volte pra contar o que achou.

  3. Ai, meu Deus. Eu AMO Sephiroth. Tenho o DVD e o Blu Ray do filme só por causa dele. Adorei a resenha. Sephiroth Forever!!!!!

    1. Avatar de Ana Carolina Silveira
      Ana Carolina Silveira

      É possível que você goste do Baronato então… 🙂

  4. Com certeza já está na minha lista de livros prá ler. Valeu pela super dica. Bijocas.

  5. Sem dúvida é um livro bacana, vale a pena ler!! E para o próximo estamos esperando o desenvolvimento de certos personagens… hehehe!

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