O Último Reino – Bernard Cornwell
06/02/2009 3 Comentários
Bernard Cornwell é um dos autores preferidos da Mariana. Ainda na minha crise de abstinência de livros durante o período de festas, ela, sentindo-se com pena de minha situação, emprestou-me este livro, “porque é de um dos meus autores preferidos, espero que você goste também”.
Ele acabou ficando por último da pilha, atrás dos livros que já coloquei aqui como lidos. Até que, finalmente, resolvi lê-lo, também pela curiosidade de conhecer a obra deste autor e pela oportunidade de saná-la.
O Último Reino é o primeiro livro da série Crônicas Saxônicas que, até o presente momento, é uma pentalogia com quatro livros lançados. Como ele já foi trilogia e tetralogia, então este número pode mudar. Trata da história do rei Alfredo, o Grande, que conseguiu enfrentar a ameaça de uma invasão dinamarquesa total e, a partir de Wessex, o último reino inglês, estabelecer a Inglaterra. É um romance histórico contado a partir do ponto de vista do ficcional Uthred, guerreiro inglês que se vê dividido entre dinamarqueses e ingleses, paganismo e cristianismo, a espada e a pena.
Este primeiro livro conta a história da infância e adolescência de Uthred, herdeiro de um senhor de terras que vê-se despojado de sua propriedade e passa a ser criado pelo dinamarquês Ragnar, que passa a considerar como seu próprio pai. Ele cresce, se torna um guerreiro, e o destino o coloca ao lado do rei Alfredo, a quem despreza imensamente, bem como contra os dinamarqueses, povo que adotou como seu.
O começo da história não me pareceu exatamente empolgante, as primeiras páginas foram bem chatinhas. Entretanto, ultrapassado o prólogo, o primeiro capítulo flui rapidamente com a história da infância e adolescência do guerreiro inglês entre dinamarqueses. Lá, desperta a sede de sangue e a selvageria em seu corpo, bem como outras paixões. As duas partes seguintes do livro, que relatam sua incorporação ao exército de Wessex e suas batalhas posteriores, também é bem empolgante.
Como romance histórico, com direito a espadas, paredes de escudos, lanças, membros decepados, sangue e tudo mais, funciona perfeitamente. A ação é uma constante e batalhas ocorrem o tempo todo, para todos os gostos. Como desconheço a história inglesa do século IX, não posso dizer se está adequado ou não à realidade, mas o autor apresenta uma atmosfera bem crível.
Quanto aos personagens, Uthred é nosso narrador e guia e, através de seus olhos, conhecemos as pessoas que o rodeiam: o padre feio e beato, porém gente boa; o general inimigo que vê como figura paterna; o velho e sábio skald, os demais generais, a garota selvagem que se torna seu primeiro amor, o rei carola e profundamente inteligente. Não os achei personagens profundos, mas também não creio que tenha sido a intenção do autor aprofundá-los. E Uthred soa como o garotão protagonista de mangá shonen que quer chutar umas bundas e cortar pessoas em pedacinhos, e que guia sua vida em função disso. Adolescência. Um dia ele crescerá, espero.
Entretanto, há três pontos do livro que me incomodaram bastante. A seguir:
1) Por que Ragnar poupou Uthred da morte? “Ele é insolente e atrevido, posso ficar com ele?”. No frenesi da batalha ele não cortaria um garoto em pedacinhos? Afinal, um a mais, um a menos… E, mesmo se sobrevivesse, seria um prisioneiro com tanta deferência? Lembrando que os dinamarqueses só conhecem sua origem nobre depois disso…
2) Mais para frente quando determinada fortaleza é assaltada, destruída e seus habitantes mortos, como um general, no meio de uma guerra, vai deixar sua fortaleza desguarnecida e não vai fazer rondas em torno de seu vilarejo para verificar que tudo anda bem, ainda mais com revoltas pipocando por toda a parte?
3) Descobrimos que determinado personagem é o antepassado de Chuck Norris além de tudo. Ele atravessa, sozinho, o acampamento inimigo, coloca fogo em uma frota de navios igualmente sozinho e não sofre um arranhão até que a batalha real comece? Essa foi ainda mais difícil de aceitar do que as duas anteriores e quebra o clima da batalha aonde está inserida.
Enfim.
Vale a pena se você gostar de ficção histórica, de lutas de espada e de Bernard Cornwell.
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